"O artista erra em querer ser só; os prazeres que ele sente no hermetismo são perigosos e ilusórios, eles podem atingir a inexpressão, isto é, a morte. O artista não é um semideus nem um profeta, ele não é mesmo obrigatoriamente um homem inteligente. Ele é um emotivo, eis tudo. Ele não inventa nada. Ele não cria nada. Ele não tem gênio. Ele sabe somente fazer sínteses. É um bom organizador.
Não se pede hoje ao artista que seja um artesão. As especializações chegam até nós de um tempo em que os dons da expressão eram muito desiguais entre os indivíduos, havia aquele que era hábil com suas mãos, aquele que falava bem, aquele que tinha uma boa voz para cantar ou boas pernas para dançar. A sociedade atual, porém, já não sente a necessidade da perfeição expressiva. Ela é aberta a todas as formas. Cada um tem verdadeiramente uma alma, cada um tem alguma coisa a dizer. A noção de gênero ainda existe por hábito, mas a verdade da arte hoje está na sensibilidade, não mais na técnica. A arte só é possível pela emoção. O que procuramos não é um relatório exato do mundo, mas sim uma evocação afetiva que permita a compreensão sobre um plano exterior ao da realidade.(...)"
(O ÊXTASE MATERIAL ; por: J. Le Clézio -Tradução Luiz Izidoro)
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